Um encontro marcado por emoção, reconhecimento e compromisso coletivo com o direito à educação. Assim foi o “Encontro de Boas Práticas da Busca Ativa Escolar”, promovido, no dia 30 de abril, pelo UNICEF e a Undime, com o apoio técnico da Asserte, parceria estratégica de BRK Ambiental e Fundação Itaú e com o apoio de B3 Social. Realizado no Jatiúca Hotel & Resort, em Maceió, o evento celebrou os avanços da estratégia em Alagoas, que nos últimos três anos garantiu o retorno à sala de aula de 6.800 meninas e meninos que estavam fora da escola ou em risco de evasão.
Com mais de 24 mil casos em acompanhamento atualmente, Alagoas consolida sua posição de destaque na estratégia nacional da BAE, com 100% dos seus municípios com adesão à estratégia, que já colaborou para que cerca de 299 mil crianças e adolescentes voltassem à escola em todo o Brasil nos últimos sete anos e meio.

Daniela Rocha, oficial de Educação do UNICEF e coordenadora nacional da BAE, e Verônica Bezerra, coordenadora da área de Educação do UNICEF para o Nordeste
“A Busca Ativa é uma escola para quem se matricula nela”, destacou Verônica Bezerra, coordenadora da área de Educação do UNICEF para o Nordeste. “Ela nos ensina a ver. Ensina a perceber aquelas crianças que muitas vezes não aparecem em lugar nenhum. Crianças fora da escola estão, muitas vezes, fora de tudo. Por isso, quando a gente fala em Busca Ativa, a gente fala em reconstruir vínculos, em ampliar o cuidado, em acionar políticas públicas que deem conta das causas profundas da exclusão escolar”, disse.
Daniela Rocha, oficial de Educação do UNICEF e coordenadora nacional da estratégia, reforçou o caráter intersetorial da proposta: “A Busca Ativa Escolar não é uma campanha de matrícula. Ela é uma ação contínua de proteção integral. Envolve saúde, assistência, educação, conselhos tutelares, famílias. E é isso que torna essa estratégia tão potente: a capacidade de reunir diferentes áreas e instituições em torno de um objetivo comum: garantir que toda criança e adolescente esteja na escola e aprenda”, ressaltou.
Representando a Asserte, Mirley Jonnes, consultor de Monitoramento e Avaliação, destacou o compromisso em oferecer suporte técnico contínuo aos municípios. “Nosso papel tem sido o de caminhar junto com as equipes municipais, apoiando cada passo, da adesão à plataforma ao uso estratégico dos dados para transformar a realidade das crianças e adolescentes fora da escola. Acreditamos que nenhuma criança pode ficar invisível. Por isso, investimos na formação das equipes locais, no acompanhamento técnico e na articulação intersetorial como caminhos concretos para garantir o direito à Educação. Os resultados que vemos hoje são fruto do esforço coletivo de quem acredita que mudar histórias é possível”, destacou.

Mateus Longman, diretor Financeiro e de Relação com Investidores da BRK em Alagoas
Entre os parceiros da iniciativa, a BRK Ambiental foi representada por Mateus Longman, diretor Financeiro e de Relação com Investidores em Alagoas, que celebrou os resultados e reiterou o compromisso da empresa com o desenvolvimento social. “A BRK acredita que educação e saneamento caminham juntos. São pilares para um futuro com mais dignidade, saúde e qualidade de vida. Por isso, investimos por meio do Instituto BRK nessa parceria com o UNICEF. Ver que mais de 6 mil crianças e adolescentes retornaram à escola em Alagoas com o apoio desse projeto é emocionante e significativo. Nosso trabalho vai além da infraestrutura, é também sobre fortalecer comunidades e ampliar oportunidades para todos”, disse.
A diretora executiva da B3 Social, Fabiana Printi, também destacou o papel da BAE como uma alavanca de transformação. “Vendo de perto esse esforço coletivo, essa adesão de 100% dos municípios à Busca Ativa Escolar, eu fico ainda mais impressionada. Acreditamos que uma escola pública de qualidade para todos e todas é o caminho mais promissor para o futuro do Brasil. E isso não é possível com crianças fora da escola, sobretudo aquelas em maior situação de vulnerabilidade. Por isso, apoiar essa estratégia é também investir na prosperidade do país”, destacou.

Fabiana Printi, diretora executiva da B3 Social
O evento reuniu gestores municipais e a equipe técnica da BAE de 13 municípios da região metropolitana de Alagoas, que vêm implementando a Busca Ativa Escolar com suporte técnico contínuo, além de parceiros institucionais da estratégia no Estado. Durante o encontro, os participantes foram recepcionados por crianças e adolescentes de Marechal Deodoro. Ao longo da programação, foram realizadas apresentações culturais de adolescentes, exposição fotográfica sobre o processo de implementação da BAE nos municípios de Atalaia, Barra de Santo Antônio, Barra de São Miguel, Coqueiro Seco, Maceió, Marechal Deodoro, Messias, Murici, Paripueira, Pilar, Rio Largo, Santa Luzia do Norte e Satuba e as experiências de três destes municípios.
Além da equipes municipais, do UNICEF e da Asserte, estiveram presentes no evento, Dileusa Costa, coordenadora estadual da Busca Ativa Escolar e superintendente de Rede da Secretaria Estadual de Educação de Alagoas; Marly Vidinha, coordenadora da União dos Conselhos Municipais de Educação (UNCME); Juliana Cahet, secretária executiva da Educação de Maceió e presidente do Conselho Estadual de Educação; Ednaldo Firmino, secretário de Educação de Branquinha e representante da UNDIME-AL; a defensora pública Taiana Grave; Érica Rodrigues, vice-presidente da Comissão da Criança e do Adolescente da OAB; Isabela Larissa, presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente; Marcos Silva, prefeito do município de Messias; Fátima Rezende, prefeita do município de Pilar; Giselda Barbosa, presidente do COEGEMAS/AL; Arquimedes Washington, vice-presidente do Fórum Estadual de Conselheiros e Ex-conselheiros Tutelares de Alagoas; Arildo Alves, presidente da Associação Estadual dos Conselheiros Tutelares; Pedro Oliveira, representante do Fórum Estadual Permanente dos Direitos da Criança e do Adolescente; o médico Cláudio Soriano, presidente da Rede Estadual a Primeira Infância; e Nelma Nunes, coordenador do Fórum Estadual de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e Proteção ao Adolescente Trabalhador de Alagoas (FETIPAT/AL).
Ao final do encontro, UNICEF, Undime Alagoas e parceiros prestaram uma homenagem aos 13 municípios que participaram do ciclo de implementação da BAE. As equipes municipais foram convidadas a receber um reconhecimento pelo compromisso com o direito à educação de crianças e adolescentes.
Exposição Caminhos da Busca Ativa Escolar em Alagoas
Durante o evento, os participantes também puderam acompanhar a exposição Caminhos da Busca Ativa Escolar em Alagoas, uma mostra fotográfica que reuniu cerca de 80 imagens registradas ao longo de mais de dois anos de implementação da estratégia em 13 municípios da região metropolitana de Alagoas. A exposição apresentou um recorte sensível e potente do processo de implementação da BAE vivido por educadores, gestores, técnicos das secretarias municipais, além de crianças e adolescentes cujas trajetórias se entrelaçam com os projetos do UNICEF.
As fotografias exibidas revelam os bastidores três anos de trabalho construído com base na escuta ativa, no trabalho intersetorial e na mobilização para garantir o direito à educação de meninos e meninas dos municípios de Atalaia, Barra de Santo Antônio, Barra de São Miguel, Coqueiro Seco, Maceió, Marechal Deodoro, Messias, Murici, Paripueira, Pilar, Rio Largo, Santa Luzia do Norte e Satuba.
A exposição apresentou imagens das oficinas formativas, das visitas técnicas realizadas nos municípios e dos encontros com equipes locais, além fotografias de crianças e adolescentes em seus territórios, expressando a construção, de quem atua na linha de frente da proteção dos direitos de meninas e meninos.
A mostra não se limitou a celebrar resultados e propôs também um olhar atento sobre o esforço coletivo necessário para enfrentar a exclusão escolar e convidou os visitantes a enxergar, nos detalhes de cada imagem, o compromisso de não deixar ninguém para trás.
Confira abaixo as experiências compartilhadas pelos municípios de Atalaia, Pilar e Satuba
Atalaia: BAE que dança – vínculos que sustentam direitos e protegem crianças
A apresentação da experiência do município de Atalaia foi conduzida por Tamires Félix e Gisele Taynara, coordenadoras operacionais da estratégia Busca Ativa Escolar no município. Elas ressaltaram que a estratégia em Atalaia extrapola os muros da escola e se faz presente em todos os espaços da cidade, como padarias, lanchonetes e nas ruas, onde a simples pergunta “Está estudando onde?” pode iniciar uma abordagem transformadora.

Tamires Félix e Gisele Taynara, coordenadoras operacionais da estratégia Busca Ativa Escolar de Atalaia
Segundo elas, a Busca Ativa Escolar em Atalaia não é apenas uma metodologia implementada por obrigação, mas uma política pública integrada ao cotidiano da gestão municipal, com forte componente emocional e intersetorial. A estratégia é entendida como instrumento de resgate de sonhos, fortalecimento de vínculos e promoção de direitos. Ao longo da apresentação, enfatizaram que cada criança fora da escola representa uma família inteira em situação de vulnerabilidade que precisa ser vista, acolhida e acompanhada.
O município, com aproximadamente 38.530 habitantes, conta com 30 escolas na rede municipal, abrangendo tanto a zona urbana quanto a zona rural, com mais de 8 mil alunos matriculados. A implementação da Busca Ativa Escolar está articulada ao fortalecimento das equipes escolares por meio de comitês formados por diretores, supervisores e a comunidade escolar. As equipes escolares são vistas como fundamentais para identificar situações de exclusão e garantir a permanência dos estudantes, especialmente nos territórios onde todos se conhecem e o pertencimento comunitário é um diferencial.
A coordenação local destacou ainda a atuação do comitê gestor intersetorial da BAE, que reúne as secretarias de Assistência Social, Saúde, Cultura, Esporte, além do Conselho Tutelar e do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA). Foi ressaltada a parceria com a Secretaria de Assistência Social do município, como essencial para garantir suporte às famílias por meio do acesso a benefícios eventuais, aluguel social e inclusão nos programas Cria, Bolsa Família e Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos.
O Serviço de Convivência, em especial, tem se mostrado estratégico para reinserir crianças e adolescentes na rede de proteção, oferecendo atividades como teatro, dança e grupos temáticos tanto na cidade quanto nas áreas rurais. A apresentação foi encerrada com uma apresentação cultural de um grupo de dança formado por adolescentes da rede municipal de ensino que também participam do Serviço de Convivência, simbolizando o impacto concreto da estratégia na vida dos jovens de Atalaia.
Pilar: Busca Ativa Escolar que tem o coração nas evidências, com decisões ágeis que impactam vidas
O município de Pilar, localizado na região metropolitana de Alagoas, vem consolidando o uso estratégico da Busca Ativa Escolar como ferramenta de diagnóstico e planejamento de políticas públicas. A experiência foi apresentada por Ronyel Félix, coordenador operacional da estratégia. Com quase 9.500 estudantes distribuídos entre Educação Infantil, Ensino Fundamental, EJA e 25 escolas que funcionam em turnos diurnos e noturnos, Pilar estruturou um modelo de atuação baseado em evidências para enfrentar as causas da infrequência e garantir o direito à educação em todas as etapas da vida.

Ronyel Félix, coordenador operacional de Pilar
“Busca Ativa Escolar não é apenas uma campanha de matrícula. É uma estratégia de garantia de direitos, uma ferramenta de gestão pública”, enfatizou Ronyel. Segundo ele, só em 2024, a equipe acompanhou 392 casos sinalizados pela plataforma como situações de possível abandono ou baixa frequência. Esse trabalho de monitoramento começa às 7h da manhã e se estende até às 23h, incluindo crianças, adolescentes, adultos e idosos, respeitando o que determina o artigo 205 da Constituição Federal sobre o direito universal à educação.
Ao analisar os dados de alertas, a equipe identificou que 51% dos casos estavam concentrados na Educação Infantil, seguidos pelo Ensino Fundamental I e II. Esse dado acendeu o alerta da gestão e motivou um diagnóstico aprofundado das causas. As principais razões apontadas foram: doenças recorrentes em crianças pequenas, desinteresse escolar, mudanças frequentes de município, negligência familiar e ausência de vínculos com a escola. “Os números não mentem, mas por trás de cada número há uma história. Por isso, fizemos também uma escuta qualificada com as famílias, ouvindo o que estava por trás da ausência de cada estudante”, relatou o coordenador.
Entre as soluções adotadas pela Secretaria Municipal de Educação, em parceria com a rede intersetorial, destacam-se as ações específicas para lidar com o alto índice de infrequência na Educação Infantil. A equipe promoveu reuniões com pais e responsáveis, orientando sobre a importância da rotina escolar e da frequência para o desenvolvimento social e cognitivo das crianças. A Secretaria de Saúde foi acionada para apoiar na prevenção de surtos sazonais, como o de “mão-pé-boca”, com a criação de protocolos de cuidado e higiene, incluindo campanhas de conscientização sobre lavagem das mãos e retorno seguro às aulas após tratamento médico.
Para enfrentar o desinteresse escolar, sobretudo nos anos finais do Ensino Fundamental, a Secretaria passou a promover momentos lúdicos e atrativos nas escolas, como formações, palestras, aulões e outras atividades que fortalecem o vínculo entre aluno e escola. “A evasão escolar não é só um problema da Educação. Ela afeta a Saúde, a Assistência e toda a rede de proteção. Por isso, os dados da BAE são apresentados e discutidos também nos HTPCs e nos planejamentos das escolas”, explicou Ronyel.
O município também mapeou os bairros com maior incidência de evasão, identificando regiões vulneráveis que passaram a receber atenção especial da gestão. Escolas localizadas nessas áreas foram mobilizadas com ações integradas e monitoramento contínuo. A plataforma da BAE passou a ser utilizada não como um sistema burocrático, mas como instrumento estratégico de gestão, subsidiando decisões e fortalecendo a intersetorialidade. “Cada criança fora da escola tem nome, sobrenome, CPF e endereço. E precisa ser vista com dignidade. A Busca Ativa Escolar é isso: acolhe, protege e garante direitos”, concluiu Ronyel.
Satuba: Busca Ativa Escolar que tem o coração na saúde
O município de Satuba, em Alagoas, apresentou durante o Encontro de Boas Práticas da Busca Ativa Escolar (BAE) um relato marcante que evidenciou o papel da intersetorialidade na garantia do direito à educação de crianças com necessidades específicas. A experiência foi narrada por Juliana Mota, técnica verificadora da BAE e coordenadora de Serviço Social da SEMED, que compartilhou dois casos acompanhados pela rede municipal envolvendo irmãos diagnosticados com uma doença rara e dependentes de cuidados intensivos de saúde.

Juliana Mota, técnica verificadora da BAE e coordenadora de Serviço Social da SEMED de Satuba (Foto: Railton Teixeira da Silva)
O primeiro caso abordado foi o de Raiane (nome fictício), aluna do 3º ano do Ensino Fundamental com uma condição intestinal grave que impedia a absorção adequada de vitaminas. A permanência dela na escola era dificultada pela falta de fornecimento regular de um suplemento alimentar essencial, distribuído pela Secretaria de Saúde. A situação provocava constrangimentos e comprometia a rotina escolar. A escola acionou o Serviço Social, que iniciou o acompanhamento da família. Em entrevista com os responsáveis, identificou-se que o pai era o único cuidador da criança, acumulando tarefas domésticas e responsabilidades de cuidado integral.
O caso foi compartilhado com o Conselho Tutelar, e, apesar da família informar que já mantinha contato com a rede de Assistência Social e Saúde, optou-se por acompanhar de perto a situação no âmbito escolar, respeitando a autonomia familiar.
No ano seguinte, um novo alerta da plataforma BAE revelou uma criança com sintomas semelhantes ao de Raiane. Tratava-se de Pedro (nome fictício), aluno da Educação Infantil — e irmão de Raiane. A equipe realizou uma visita domiciliar e constatou que os dois casos pertenciam à mesma família. A descoberta trouxe à tona uma realidade ainda mais desafiadora: o pai das crianças trabalhava fora, retornando a cada refeição para alimentar os filhos, que não recebiam benefícios sociais como BPC ou Bolsa Família, apesar da vulnerabilidade. Os dados do CadÚnico estavam vinculados à mãe, que morava na mesma rua, mas não prestava cuidados efetivos.
A partir dessa constatação, foi estruturado um plano de ação com envolvimento da rede intersetorial. A Secretaria de Saúde passou a fornecer o suplemento alimentar necessário, e a Assistência Social iniciou visitas e articulações para inclusão das crianças em benefícios sociais. “Esses casos só puderam ser enfrentados de forma eficaz porque houve articulação entre os setores e disposição para olhar cada criança em sua totalidade”, destacou Juliana.
Os resultados começaram a aparecer: os elementos para o tratamento das crianças foram regularizados, as condições familiares começaram a se reestruturar e, com apoio da rede, foi possível reforçar a permanência escolar dos irmãos.
Juliana também ressaltou a importância da formação continuada das equipes da Busca Ativa Escolar, não apenas para uso técnico da plataforma, mas para o desenvolvimento de uma escuta qualificada e um olhar humanizado. “Precisamos enxergar as crianças não apenas como alunos, mas como pessoas que precisam ser cuidadas, vistas em sua individualidade”, afirmou.
A apresentação de Satuba mostrou, de forma concreta, como a articulação entre Educação, Saúde, Assistência Social e Conselho Tutelar é essencial para garantir os direitos de crianças e adolescentes em situações de vulnerabilidade. A Busca Ativa Escolar se destacou como ferramenta fundamental para identificar casos complexos, organizar as respostas e acompanhar as ações necessárias com eficácia e sensibilidade.